O Pior Emprego Do Mundo
Published on
O Pior Emprego do Mundo - por Thomas Traumann (Podcast | Twitter)
Este livro é uma história da economia brasileira, desde o período da Ditadura até o segundo governo Dilma/Temer. Mostra o quanto avançamos como nação, e o quanto continuamos a repetir erros do passado. Mostra o lado humano dos homens e mulheres que comandaram a economia brasileira, seus vícios e virtudes, as dificuldades de convencer e implementar suas ideias, o jogo de poder e suas consequências.
O Brasil já passou por diversas crises, teve muitas oportunidades perdidas de grandes avanços sociais e economicos. É bom ler sobre o passado para enxergar melhor o presente.
“Os políticos usam os economistas como os bêbados usam o poste, mais para apoiar do que para iluminar”
“Um pequeno exemplo do seu exercício do poder: em 1973, diante da alta do preço do feijão no Rio de Janeiro, o ministro ordenou que caminhões com o grão no Paraná rodassem quilômetros para abastecer a antiga capital do estado da Guanabara. Como a inflação oficial à época era medida, principalmente, pelos preços praticados no Rio, o transporte de feijão manipulou o resultado. Por isso, a inflação de 1973 pode ser de 15,5% (nos cálculos oficiais da administração Delfim) ou 20,5%, se vista pela revisão do seu sucessor no Ministério, Mário Henrique Simonsen. “Nunca fiz manipulação de preços. Só de oferta”, ironizou Delfim, décadas depois.”
“O Brasil viveu meses de catarse. Uma campanha publicitária gratuita da TV Globo afirmava, peremptória, “Tem que dar certo”. Munidos com as tabelas com o valor de 5 mil produtos da Superintendência Nacional de Abastecimento e Preços (Sunab), consumidores se diziam “Fiscais do Sarney”. Flagrados com preços acima das tabelas, supermercados foram forçados a fechar enquanto clientes cantavam o Hino Nacional. Revistas distribuíam imagens de bigode que podiam ser cortadas e usadas para aumentar a identificação com o presidente.”
“Um mês antes das eleições, uma espetacular ação da Polícia Federal confiscou 2 mil cabeças de gado e indiciou comerciantes que praticavam ágio nos preços. A ação policialesca não encheu a prateleira de um supermercado, mas rendeu centenas de milhares de votos ao candidato do PMDB ao governo de São Paulo, Orestes Quércia.”
“Duas regras sobre Brasília. A primeira é: só acredite no Diário Oficial da véspera. A segunda é: o chefe se convence por aquele que falar com ele primeiro.”
“FHC tornou-se candidato por obra e graça de Itamar Franco, que não tentou durante a campanha eleitoral lhe tomar os méritos do Plano Real. Foi o ministro, e não o presidente, o convidado a explicar nos programas populares de TV os estranhos cálculos para a conversão dos salários em URV. Para dar provas de que FHC era o pai do real, Itamar permitiu uma irregularidade, a de que FHC assinasse em abril as notas de real que só iriam circular dois meses depois. Com o passar do tempo, a historiografia oficial do Plano Real passou a ressaltar as qualidades de que FHC e sua equipe e as dificuldades impostas por Itamar, apresentado como o político ignorante sobre o funcionamento da economia. Em 2009, magoado até o fundo da alma com FHC, Itamar Franco gravou depoimento sobre o período: Para mim, Ricupero foi o principal sacerdote do Plano Real. Mais tarde tivemos ajuda, e grande, do ministro Ciro Gomes. Naquele momento, isso é o que o povo brasileiro não sabe se for ler a história do real, é o senhor Pedro Malan; senhor Pérsio Arida, não sei mais quem. De repente, até parece que foi o doutor Cardoso que assinou a medida provisória[4] do Plano Real.”